Santos, SP, 1995. – Vive e trabalha em São Paulo, SP.
Indicado ao Prêmio PIPA 2021.
Artista Selecionado Prêmio PIPA 2021.
Ilê Sartuzi é artista formado pela Universidade de São Paulo (USP). Sua pesquisa envolve objetos escultóricos, vídeos e projeções mapeadas, instalações e peças teatrais abordando questões relativas à imagem idealizada do corpo, muitas vezes fragmentado ou construído a partir de diferentes partes; mas também a ausência dessa figura em espaços proto-arquitetônicos e digitais. O interesse pelas artes dramáticas nos últimos anos conferiu uma teatralidade para os objetos e instalações que são animadas por movimentos mecânicos e interpretam dramaturgias e coreografias. A repetição é recorrente seja como elemento construtivo de objetos moduláveis, uma estrutura cíclica, ou como estratégica dramatúrgica.
Participou de exposições em instituições como Videobrasil (2021); Bienal SUR (2021); Homeostasis Lab (2021); Instituto Moreira Salles (2020); SESC (Ribeirão Preto, 2019; Distrito Federal, 2018); CCSP – Centro Cultural São Paulo (2018); MAC-USP Museu de Arte Contemporânea (2017); Museu de Arte de Ribeirão Preto (2020; 2017; 2015); Centro Universitário Maria Antônia (2019); Galeria Vermelho (2017; 2018, 2019); as três em colaboração com o grupo de pesquisa Depois do Fim da Arte que integra desde 2015. Apresentou peças teatrais realizando projeção mapeada de vídeo em espaços como a Oficina Oswald de Andrade (2018, 2020); Itaú Cultural (2019); Teatro de Contêiner (2019) e no TUSP (2019). Trabalhando por mais de um ano em um projeto específico, estreou sua peça sem atores “cabeça oca espuma de boneca” na Firma (São Paulo, 2019). Recebeu o Prêmio PIPA em 2021.
PIPA de perto
PIPA de perto: a artista fala na coleção do Instituto
“Worstward Ho!”
2020, 06’50”, texto: Samuel Beckett, interpretação: Miro Bersi, trilha sonora: Bruno Palazzo
Comissionado pelo Instituto Moreira Salles, o vídeo “Worstward Ho!” parte do texto homônimo de Samuel Beckett, publicado em 1983. As imagens, o texto e a trilha sonora se sobrepõem para criar um percurso contínuo dentro de um apartamento reconstruído através do processo de fotogrametria. A câmera descorporificada desliza, em seu lento e contínuo movimento, pelo espaço e fora dele e de novo para dentro. Com a cadência rítmica própria dos textos de Beckett, a voz acompanha o vídeo nesse tempo dilatado e dinâmico, que confunde espaços “reais” e “digitais” ou um possível lugar mental, encerrado em si mesmo.
O trabalho, que foi mostrado pela primeira vez no contexto do Programa Convida do IMS, este ano ainda integra a 15ª Bienal de Artes Mediales de Santiago, no Chile. Agora, essa obra passa a integrar o acervo do Instituo PIPA.
“Queda”
2021, vídeo HD, cor, som, 12’20’’
Um vídeo realizado com animação 3D no qual uma espécie de pele cai sobre um plano. Repetindo essa mesma ação a partir de posições diferentes, os cálculos de impacto desses dois materiais geram deformações diferentes nessas peles. O trabalho aproxima duas características distintas da obra do artista: as peles de látex e a pesquisa dentro das simulações digitais. A obra foi mostrada pela primeira vez na individual “A. E A de novo.” no auroras, em São Paulo. Nessa ocasião, o vídeo foi instalado dentro da lareira da casa, que ocupa o centro do espaço expositivo principal.
“Vedetes”
2017, máscara de látex, suporte, servomotor, arduino, projetor, dimensões variáveis – em parceria com o grupo AMUDI da Escola Politécnica da USP
“Vedetes” é o primeiro trabalho em que Ilê Sartuzi utiliza microcontroladores para movimentar objetos. Na obra, a boca de uma máscara de látex é articulada com um movimento mecânico aleatório e dessincronizado em relação às imagens projetadas sobre essa mesma boca. O que está em jogo são uma série de lógicas de superfície – seja na máscara fina ou na projeção que toca essa pele e até mesmo o conteúdo dessas imagens. As bocas vêm de cenas de vedetes do cinema internacional e nacional, e a sedução do observador com as imagens mesmas do consumo dessas figuras (dos seus lábios e seu charme frente às câmeras) está em descompasso com as deformações causadas pelo movimento maquinal-repetitivo.
“Sem título (videogame Glitch)”
2018-2019, vídeo HD, cor e som, 05’46’’
O vídeo investiga as falhas (glitches) de jogos de videogame a partir de imagens apropriadas da internet. Dividido em duas partes, a primeira delas investiga falhas referentes à estruturação dos corpos dentro do sistema do mundo virtual. Esses glitches alteram a ordem estabelecida e o funcionamento normal das coisas, transformando, em alguns casos, a tridimensionalidade aparente que estrutura esse mundo, revelando a bi-dimensionalidade chapada da imagem. Nesse sentido, a pesquisa sobre a imagem dos corpos continua a se aprofundar em outro campo representativo. As investigações que transitavam entre o corpo escultórico e a imagem pintada adentram o mundo digital como maneira de deslindar a construção – e aqui o aspecto construtivo deve ser levado em conta – de corpos fragmentados e por vezes monstruosos.
Na segunda parte do vídeo são exploradas as possibilidades de um jogador usar um glitch em sua vantagem de uma maneira não pretendida pelos designers do sistema, o que é caracterizado nos videogames como um exploit. Amplia-se, portanto, a compreensão de atuar pelas brechas (ideia tão cara à alguns filósofos contemporâneos como Alain Badiou). Entendendo os mecanismos do sistema e suas falhas, o sujeito pode intervir de maneira mais potente em estruturas complexas através dessas aberturas.
Vídeos